O
aviso de que o STF marcou para 1º de agosto o início do julgamento do mensalão
já serviu para elevar sobremaneira a temperatura nas altas esferas políticas e
jurídicas do país. Declarações de alguns dos principais envolvidos, direta e
indiretamente, dão bem a dimensão do clima que cerca o polêmico processo da
compra de apoio parlamentar durante o primeiro governo do presidente Lula. Não por
acaso, duas vozes sobressaíram para comentar o tema: a do ex-ministro José
Dirceu, réu apontado pela Procuradoria-Geral da República como o mentor do
esquema; e a do ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos, que advoga para um
dos casos. Ainda que em eventos diferentes, Dirceu e Bastos falaram a mesma
língua com o objetivo único de desqualificar o mensalão. Nesse esforço, tanto
um quanto o outro centraram suas críticas no trabalho da imprensa, que estaria
tentando influenciar o julgamento. Segundo (Thomaz Bastos) e exigindo a
condenação sem provas (na opinião de Dirceu). Sobre a enxurrada de evidências de
pagamento de propina mensal a membros da base governista, nenhuma palavra, como
se fosse uma peça de ficção criada maleficamente pela oposição mancomunada com
a mídia dita monopolista. Aliás, o próprio ex-presidente Lula, pouco antes de
deixar o governo, chegou a afirmar que o mensalão era uma farsa e que se
dedicaria a desmascarar a trama, desdizendo o que afirmara em reunião
ministerial ocorrido pouco depois desse lamentável episódio. À época,
indignado, disse que tanto o PT como o governo precisavam pedir desculpas à
nação por práticas inaceitáveis que ocorreram sem o seu conhecimento. Ainda que
não tenha desmascarado o mensalão e esquecido de exigir as desculpas da
companheirada como chegou a cogitar, Lula dá mostras de que não desistiu de
conspirar contra o seu julgamento as vésperas das eleições municipais de
outubro. Dois propósitos parecem mover o ex-presidente nesta empreitada: o
partidário, pelo riscos de revelações que prejudiquem candidatos petistas às
prefeituras; e outro, de cunho pessoal. Neste caso, Lula não quer em seu
currículo a pecha de ter sido o presidente em cujo governo ocorreu aquele que é
considerado o maior escândalo da história política brasileira. E as pressões
sobre alguns ministros do Supremo evidenciam de forma inequívoca até onde o
ex-presidente está disposto a chegar na sua cruzada contra o mensalão. As
revelações do ministro Gilmar Mendes sobre o teor da conversa mantida com Lula,
que teria insinuado a necessidade do adiamento do julgamento para o próximo
ano, são exemplo disso. Além de Gilmar Mendes, Lula teria mantido contato com
outros ministros com o propósito de influir nos rumos do mensalão. Pressões a
parte, era fundamental para o resgate da credibilidade e da ética nas
instituições que o processo do mensalão entrasse na pauta ainda este ano, até
como forma de evitar que algumas das penas acabassem prescritas. Ao todo, são
38 os réus denunciados pela Procuradoria da República pelos crimes de formação
de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de
divisas e corrupção ativa e passiva. Defenestrar esses elementos que apenas
fazem da vida pública trampolim para suas ambições pessoais é o que se espera
do julgamento que o STF está provendo para agosto e que promete ser histórico. Consolidada
esta ação, através da Corte maior do país, tem tudo para modificar o conceito
político da nação, no empenho dos maus políticos, embora sejam minoritários,
mas de elevado poder da República, naturalmente recheados de vícios que
contaminou outros segmentos com o “bem roubar” do erário, nos estados e
municípios sejam repudiados pela sociedade.
Antônio
Scarcela Jorge
Nenhum comentário:
Postar um comentário